Quote de Tsara
"Sentiu-se atraída pelo objeto, não saberia explicar por qual razão. Afinal, não só era curiosa naturalmente, como jamais mexeria em algo que não lhe pertencesse. |
Aproximou-se
da maleta estranha, semelhante a um baú com alças para transporte, envolta por
uma corrente cheia de moedas de onde pendia um pequeno cadeado em formato de
chave.
“Estranho...” Imaginou. “Para que serve um cadeado aberto?”.
Não
resistiu à tentação. Abriu o baú e olhou em seu interior, ainda espantada com a
própria curiosidade. Dentro dele havia muitas moedas antigas e douradas,
certamente de ouro, observou.
Jamais
vira tantas moedas de ouro assim reunidas! Algumas chaves acobreadas. Pingentes
de pequenas estrelas de cinco e seis pontas. Broches com incrustações de
pedrarias e muitos lenços e xales de todas as cores e adornos, feitos da mais
pura seda e mesmo caxemira, de textura macia e toque suave. Chegou mesmo a
sentir um leve aroma de rosas pelo ar.
Foi
quando ela se deparou com um dos lenços mais lindos que já vira em sua vida,
senão o mais belo de todos.
De
um tom escuro de azul quase negro, ao ser examinado contra a luz, revelava o
brilho prateado da lua. Um fio de ouro percorria toda a extensão da trama em
arabescos, formando variadas figuras cujo significado escapava de seu
conhecimento.
Ela
pegou o lenço e abriu-o sobre a cama. O lenço era largo, imponente e fora dos
padrões dos lenços modernos.
Tomou
a seda por duas de suas pontas e fez um voleio com os braços, depositando-o
gentilmente sobre os ombros. Graças ao material, o xale escorregou-lhe pelas
costas, cobrindo-a parcialmente. As longas extremidades agora caíam pelo corpo,
amparadas pela curvatura de seus braços. Mariana ajeitou-o no corpo.
Nesse
exato momento o ambiente à sua volta se transformou.
Tapetes
cobriam as paredes do quarto cujos desenhos retratavam danças em volta de
fogueiras e casais de amantes.
Outros
tapetes cobriam o chão da sala onde se apoiavam mesas centrais e laterais,
esculpidas em madeira de lei. Os pés dos móveis uniam-se formando curvas
francesas, sustentando o tampo ovalado.
Sobre as
mesas, arranjos de rosas. Uma infinidade de rosas de todos os matizes de
vermelho, amarelas, cor-de-rosa e também brancas coloria e perfumava o
ambiente.
Numa
das mesas, a mais próxima à cama, havia um leque vistoso com as pequenas lâminas
pintadas à mão. As cenas pintadas retratavam mulheres usando longos vestidos
com brocados e rendas. Rosas vermelhas enfeitavam negros cabelos presos em
coques baixos, mantidos na região da nuca. Ao lado dos leques, mais moedas de
ouro. Ouro. (...)
O olhar deparou-se com um objeto
familiar, despertando-a das reminiscências de seu passado recente. Por um
motivo que teimava em permanecer obscuro para ela, esse passado agora a
conduzia por trilhas que, a custo, tentara esquecer.
A
penteadeira era como aquela em que sua mãe olhava-se por horas enquanto
escovava os próprios cabelos ou mesmo os dela, ainda menina. Sobre a
penteadeira de sua mãe havia, como naquela ali defronte, alguns vidros de
perfumes e logo atrás, uma majestosa e pesada cortina cerrava a visão da
janela.
— Luara.
Mariana
voltou-se em busca da voz que lhe despertara do transe. Olhou para o homem
deitado sob o lençol branco de cetim.
Não,
não... Isso tudo é fruto de sonho! Pensou. Devo ter adormecido, de alguma
forma. Eu estava entrando no banheiro e...
Recompôs-se
da surpresa e já irritada, racionalizou:
— Isso é impossível...
Olhando
de soslaio para o homem e concedeu-lhe um meio sorriso:
—... Infelizmente.
Caindo
em si, porém, interpelou ao dono da voz:
— O que está acontecendo aqui?
Tenho uma reunião agora. Sou a palestrante convidada. Sem mim, a convenção não
pode começar! Que loucura é essa de invadirem assim o quarto em que estou
hospedada? Irei chamar a segurança!
— Luara, murri shukar![1]
O
homem insistia em chamar-lhe por aquele nome. Não parecia um sonho.
“O meu nome é Mariana. E ele não poderia
falar comigo... poderia?”
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