Conto O Sopro do Dragão e o Ano-Novo Chinês

    Em 12 de fevereiro de 2021 foi comemorado O Ano Novo Chinês. 
    Em São Paulo, especialmente no Bairro da liberdade - colônia japonesa onde há também a forte presença chinesa-, as comemorações incluem diversos eventos tais como  Dança do Leão e do Dragão,artes marciais, canto e dança , previsões para o ano do Boi de metal - segundo o animal que rege o Horóscopo Chinês do ano de 2021- e uma parte reservada à curiosidades da cultura chinesa, como tradições, culinária e Caligrafia.
    Sediada naquela cidade, a  AABC- Associação de Amizade Brasil- China,comemorou nesse ano a passagem no ano e o inicio do ano do Boi de Metal com uma comemoração virtual. A Associação que faz o evento todo ano precisou se adaptar e fazer o evento 100% virtual , por causa da Pandemia.
   
Urso panda e um boi de metal .Comemorações de 
um centro em Sichuan,3 de fevereiro de 2021
 Foto: Chinatopix via AP

    Em países onde há o calendário Lunar o feriado do Ano Novo Chinês possui uma duração de 3 a 7 dias. Entretanto em todos os países a tradição mais comum é a reunião familiar na noite do ano novo.
    Um dos símbolos mais comuns é a Lanterna vermelha. Muitos supersticiosos, para os chineses durante a duração do evento não pode haver choro de crianças, varrer o chão ou lavar a roupa. As mulheres, por sua vez, devem ficar em casa durante o período das festividades, segunda rege a tradição.
    No último dia do evento, numa espécie de quarta-feira de cinzas,é o único dia que as moças poderiam sair de casa para ver as Lanternas Vermelhas- e também visitar parentes e amigos. O Festival das Lanternas vermelhas ocorre no 15° dia do calendário Lunar e marca o fim das comemorações de Ano Novo. Antigamente, era um momento quando, com a desculpa de ver as lanternas, as moças podiam sair de casa e assim conhecer os rapazes! As crianças também vão a´Festival à noite e resolvem charadas escritas nas lanternas.


Yuanxiao – Festival das Lanternas – China e Taiwan



    Abaixo , um vídeo do Instituto de Artes da  UNESPE  que,em 6 de Abril de 2011, apresentou o intercâmbio Brasil - China celebrado através da criação do  Instituto Confúcio na UNESP, numa parceria entre a Faculdade Hubei a a faculdade paulista. 
    A dança do leão e do Japão apresentadas no vídeo foram coreografadas pelos alunos da faculdade de educação Física da Faculdade de Hubei. Porém, há muito mais a conhecer no vídeo, como o canto, a caligrafia chinesa e muito mais nessa mostra cultural.




      Ao contrário de São paulo, onde os eventos públicos chineses são celebrados com grande presença pública, as comemorações no Rio de Janeiro acontecem em especial com a presença quase que exclusiva de descendentes diretos e imigrantes chineses.
    O que muita gente desconhece é que a primeira cidade brasileira a receber a imigração  chinesa , ainda no século XIX foi justamento o Rio de Janeiro! Sandra Machado comenta que entre 1812 e 1819, cerca de 300 deles foram trazidos de Macau pelo Governo Real Português, a fim de iniciar o plantio de chá- que não foi bem sucedido..Em 1825 vários chineses registrados com nomes brasileiros, insatisfeitos com o regime de servidão a que eram submetidos, conseguiram licença para  trabalhar como mascates, ou ainda passaram a ser ambulantes vendendo pastéis na feira. Alguns prosperaram, abrindo restaurantes, mercearias e lavanderias, em especial no bairro da Tijuca,onde se fixaram.
 
A partir de 1856, o Jardim Botânico passou a ser ligado ao Alto da Boa Vista, por uma estrada que foi aberta por mão de obra chinesa. Em homenagem a esses trabalhadores, o prefeito Francisco Pereira Passos mandou construir, em 1903, um mirante, que oferece a melhor vista dos principais cartões postais da cidade. É a Vista Chinesa, dentro do Parque Nacional da Tijuca, na Estrada da Vista Chinesa, e considerada o maior monumento dedicado a um país asiático em toda a América Latina. Localizada a 380 metros de altitude, permite uma visão panorâmica que abarca o Cristo Redentor, a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Pão de Açúcar, o Morro Dois Irmãos e as praias da Zona Sul do Rio de Janeiro." ( Sandra Machado in Chineses no Rio de Janeiro- Da Serie Rio Multicultural-Reportagens http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/795-os-chineses-no-rio-de-janeiro)

Vista Chinesa-Parque Nacional da Tijuca-RJ


    E é essa atmosfera que o conto O Sopro do Dragão vem resgatar. Aliando a ficção e realidade, característica intrínseca ao gênero Literário Realismo Mágico-,a abertura do conto retrata o evento que ocorreu em 2017 nos boêmios Arcos da Lapa Carioca. Antigo Aqueduto da cidade, hoje os Arcos da Lapa se transformaram em um ponto turístico-palco para as mais diversas mostrais culturais ao ar livre com forte presença de público.

    Em 2017, ainda usufruindo a grande repercussão para a cidade,obtida graças ao evento esportivo mundial, as Olimpíadas-, sediada na cidade no ano anterior, houve pela primeira vez a celebração do Ano Novo Chinês em solo carioca.

    O enredo do Conto O Sopro do Dragão contra a história de Renato Huang, filho de imigrantes, um funcionário contratado de um Food Truck Temático-especializado na venda de comidas de rápida preparação da gastronomia chinesa, tais como Guioza e Lamen.

   Com a promessa de se tornar sócio do Food truck, Renato acabou cedendo ao capitalismo desmedido do dono do estabelecimento, que viu no evento uma grande oportunidade de enriquecer,pela presença maciça do público presente  e potenciais consumidores,

   Ele repetia sem cessar: "A Wong (tradicional frigideira chinesa) não pode parar! Dinheiro, quero dinheiro". 

    Entretanto, Renato prometera para sua amada mãe que, um dia, daria à ela a honra de ver seu filho guiando a cabeça da grande serpente chinesa. Ainda que para ele isso não importasse tanto assim, para ela esse momento fora ansiosamente esperado.

 Ao rufar dos tambores os Filhos do Dragão silenciaram-se, atentos. Os frequentadores dos bares e casas de show da região imitaram os donos da festa, calando-se por sua vez.

A plateia ocupou a Praça Cardeal Câmera, próxima ao Aqueduto da Carioca. Uma famosa construção cujo nome mais conhecido por cariocas ou turistas é Arcos da Lapa.

O local escolhido, portanto, não poderia ser outro.Bem no coração da cidade, no Centro do Rio de Janeiro,o local foi utilizado por muito tempo para levar água de uma nascente para a população da cidade. O Aqueduto da Carioca, a partir de 1896, passou a ser utilizado como viaduto para os novos bondes de ferro, principal meio de acesso do centro aos altos do bairro de Santa Teresa. Mas, isso tudo é parte da história.

Hoje, porém, a construção é um famoso ponto turístico e reduto da boemia que frequenta cada noite até o amanhecer, resistindo à pressa dos dias. Afinal, quem nunca esteve à noite na Lapa não sabe o que é viver. E aquela noite de 28 de Janeiro de 2017, em especial, ficará para sempre na memória da cidade e de todos que lá estiveram.

Filhos de chineses nascidos em território brasileiro ou ainda imigrantes, essa parcela dos espectadores presentes na festa estava especialmente animados. (..)

 E, contrariando todas as expectativas, esse ano a honra coube a ninguém menos que Renato Huang. Muito embora não fosse um chinês de nascimento, pois nascera em território brasileiro, era filho de imigrantes chineses e fora criado segundo as tradições e mitos.

Quem o visse assim, alto, magro, cabelos negros e lisos até os ombros e olhos bonitos, também negros, por trás das pálpebras amendoadas, certamente acreditaria estar olhando para um legítimo "Filho do Dragão."

Exímio dançarino e o mais experiente da equipe composta por acrobatas e lutadores de Kung Fu, Renato treinou por meses a complexa coreografia de saltos e movimentos ondulatórios com os quais arrancaria aplausos da plateia.

Sentia-se preparado para tanto e tinha consciência do significado da Dança, ainda que não compartilhasse do amor pela tradição como sua mãe .Para ele, a Dança do dragão não era nada mais que uma dança bonita e difícil, a ser executada com técnica e precisão, como parte de um ritual antigo de devoção aos antepassados.

“— É preciso honrar aos ancestrais, meu filho.” ( O Sopro do Dragão-página 17)

      Porém, Renato está agora de luto pela recém- perda da mãe , justamente no ano em que fora escolhido para conduzir a cabeça desse ser místico. O dono do estabelecimento o ameaça, dizendo que se ele deixar o trabalho para participar da apresentação, será demitido. 

      O último elo familiar de sua família original, a mãe, já não estava mais com ele e  mesmo separado de sua esposa, Renato queria ensinar ao filho as mesmas tradições que aprendera com a mãe e com o avô. Como ele conseguirá dinheiro para pagar a pensão de seu próprio filho e ainda executar a dança ritualística como um legítimo Filho do Dragão?

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     O conto O Sopro do Dragão surgiu como resultado de um desafio Literário na rede social Wattpad onde a proposta era escrever um texto baseado em uma música pouco conhecida de uma banda famosa. 

   Ainda que essa música seja conhecida, foi escolhida por ter sido muito pouco tocada em rádios numa época em que a divulgação por essa mídia dominava o mercado musical.

   A razão disso era por ser uma obra considerada extensa para uma música , em torno de nove minutos de duração;além da presença de quatro ritmos musicais totalmente diferentes entre uma estrofe e outra. O refrão da música é justamente o título do Conto.

   Foi assim que surgiu essa releitura da música Metal Contra as Nuvens da banda nacional de grande sucesso, Legião Urbana.

  Ouça a música no vídeo abaixo:


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 O Conto O Sopro do Dragão está disponível em e-book na Amazon e em Kindle Unlimeted

     Acesse o Link ➡️ https://www.amazon.com.br/Sopro-Drag%C3%A3o-Michelle-Louise-Paranhos-ebook/dp/B07C9L6557


    SinopseO Sopro do Dragão forma o denso nevoeiro que cobre a superfície do Rio Huang Ho- o Rio Amarelo-, onde a civilização chinesa teve sua origem.Assim que o nevoeiro se dissipa, porém,a paisagem que vemos é a de um jovem chinês lutando para sobreviver no Brasil, dividido entre manter as tradições de seus ancestrais e a deturpação desses valores pela vida moderna.

 

 

Michelle Louise Paranhos - escritora e crítica literária.

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