crônica "Virando o Jogo"

Fui buscar minha filha na escola.  

Ao retornar, ela matraqueava  pelo caminho, como sempre.

Com o sol de meio dia queimando os neurônios, eu não conseguia assimilar muito bem todo aquele falatório até que a vozinha , ainda estridente, chamou minha atenção:

— Tá ouvindo, mãe? Ela me trollou legal e eu não gostei!

— Trollada, foi? — perguntei, tentando resgatar na memória o que raios ela estava tentando dizer.

— Ah! Entendi— ela interrompeu meus pensamentos—, esqueci que na sua época não falava trollados... Trollado quer dizer enganados...

— Ei! Eu sei o que quer dizer, mocinha! — retruquei.

Ela me olhou meio que duvidando de minhas palavras;

— Pois saiba que até mesmo usei isso num livro! O meu livro “Blog3k- Trollados pela Vida adulta”.

— Trollados pela Vida adulta! — ela repetiu, às gargalhadas— Essa foi boa.

Sorri, me sentindo vitoriosa. A ideia era mesmo provocar identificação com essa galera... Jovem. Ok.

“Galera não é uma gíria desse tempo... Como é mesmo que se diz?”

— Porque eles foram trollados?

— Porque achavam que a vida seria mais fácil de levar, mas foram enganados direitinho por ela.

— AH! Mãe. Gostei do tema do seu livro. Deve mesmo ser legal! O que não é nada legal é ser trollado, não é? Nem pela vida, nem pela minha colega. Mas isso não vai, não pode ficar assim! — falou com um brilho nos olhos.

Se até pouco tempo eu teria que ir até a escola, para intervir pela minha pequena nas contendas infantis, agora estou diante de uma pré- adolescente corajosa, disposta a não se deixar intimidar... Nem pela vida, nem por ninguém.

Sorri.

Só então percebi que conquistei a mais linda, tagarela e impensável fã- minha própria filha.

Quer coisa melhor para uma mãe escritora?

É...

Quase sempre a vida trolla a gente.

Problemas, prazos impensáveis, discussões, falta de grana...

Quem nunca foi trollado, não é verdade?

Vez ou outra, porém, é a gente quem vira o jogo e trolla a vida.

Mesmo que seja através de um elogio sincero feito por um pingo de gente.

É...

Agora chegou a minha vez!

                                                        Michelle Louise Paranhos- 24/11/18