Quote de A Colheita!

Que tal um Quote super especial?

Hoje  vamos falar sobre :

  ❤ A Colheita ❤

  "  Rio de Janeiro, 2007.                                                                                                                                                                                                                                                                                            Ele usava a camisa social aberta com as mangas longas dobradas até o antebraço com a intenção de esconder, ainda que de forma parcial, a visão da camiseta de malha que vestia por baixo. A estampa trazia a ilustração de Bart Simpson escrevendo no Quadro Negro a sugestiva frase “Não sou obrigado a nada”. Às costas, a balança – o símbolo do Curso de Direito.

 A camisa sobreposta era um contraponto bem-vindo à rebeldia. Ainda assim, as suaves listras verticais brancas sobre o fundo azul de gola italiana – com o logo característico do crocodilo bordado na região do peito – também se destacavam na camisa Lacoste, produzindo um contraste inusitado entre o moderno e o tradicional.

Pelos corredores, em andar acelerado, chegando mesmo a correr em alguns trechos, ele se esforçava para chegar ainda em tempo na aula ministrada no anfiteatro da Escola de Direito da Universidade Federal de Acácias, localizada na cidade homônima no estado do Rio de Janeiro.

Não raro, precisava deslocar-se até a sede da Universidade em Acácias, mas a maioria das aulas era ministrada ali mesmo, na Escola de Direito, no Leblon, bairro elegante da zona sul do Rio de Janeiro.

Algumas vezes a distância entre os prédios era a razão de seus frequentes atrasos, já que não tinha ainda condições de ter um carro próprio, ao contrário da maioria de seus colegas. Em outras vezes, porém, os motivos eram outros... Bem mais... interessantes.

 A turma de Direito no 7° período mandara confeccionar a camiseta com a estampa uma forma de protesto dos alunos ao que julgavam ser fruto de uma arbitrariedade.

 E é claro que Vincente, como presidente do diretório central dos estudantes, encabeçara o protesto irônico, sendo responsável não apenas pela ideia quanto pela elaboração do desenho nada convencional para uma camiseta de um curso de graduação em Direito, colocando-se ao lado da reinvindicação antiga dos estudantes. Por que havia a permissão para que alunos dos demais cursos percorressem as dependências da universidade em mangas de camisa[1] menos eles?

Para participar das atividades do curso, porém, existia a solene recomendação – um eufemismo para esconder de forma suave e diplomática a exigência, evitando contestações – para uso de traje completo em pleno calor do Rio de janeiro. Com especial atenção para as aulas de Direito Penal, quando ocorriam simulações de julgamento e os alunos – mesmo de outros cursos – poderiam observar o desenrolar dos casos apresentados na condição de plateia no tribunal."

❤❤❤

(...)
O professor guardou os apontamentos em sua pasta e, em seguida, deixou o anfiteatro acompanhado pelo aluno.

– Feche a porta, por favor, senhor Vincente.

O professor encostou-se à lateral da mesa com as pernas esticadas à frente e cruzou os braços.

– O que o senhor pensa que está fazendo?

O professor não o convidou a sentar-se e ele permaneceu de pé, pressentindo a gravidade do assunto.

– Achei que minha argumentação tivesse se demonstrado satisfatória.

 – Sua apresentação foi precisa. Os artigos foram bem colocados e a condução final do caso foi brilhante. Ainda assim, seu comportamento geral me obriga a fazer ressalvas em sua avaliação final nesta disciplina para a qual possui especial interesse e talento. Quero deixar bem claro que o desabono em sua conduta vai além de perder pontos num seminário.

“Não é essa a postura adequada a um advogado – a começar pelo atraso. Além disso, constrangeu publicamente sua colega de equipe. Ela é sua namorada, correto? Ou era, depois do que presenciamos aqui. Perder uma audiência – real ou simulada – porque estava às voltas com relacionamentos amorosos é totalmente inaceitável. Então, diga-me: é isso que poderei esperar de sua postura profissional, senhor Vincente?”

Ele imaginou inúmeros argumentos, mas nenhum lhe parecia bom o bastante para servir-lhe como defesa.

– Minha vida particular não interessa aqui – concluiu de mau humor.

– E o senhor estaria correto em afirmar isso. Se, e apenas se, não tivesse permitido que sua vida privada interferisse em seu trabalho profissional. 

“Devo lembrar, justamente ao senhor, o que o Código de Ética e Disciplina estabelece como deve ser a conduta de um advogado perante a sociedade?”

Vincente murmurou em voz baixa:

“Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os funcionários do Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito”.

– Não é necessário. Sei que errei e, na verdade, não tenho nenhum motivo plausível que justifique minha conduta – retrucou elevando a voz. – Lamento, sinceramente.

– Muitas vezes, senhor Vincente, seu cliente também não terá nenhuma defesa aparente, por ser visível sua culpa no caso. Mas, ainda assim, você, enquanto advogado de defesa do réu, não poderá abandoná-lo à própria sorte. Quando um advogado percebe que não haverá possibilidade de seu cliente sair absolvido ao término de um julgamento e, ao reconhecer a culpabilidade do acusado, sugira às partes estabelecerem um acordo satisfatório antes que o processo siga adiante, correndo o risco de seu cliente ser considerado culpado. Além disso, um julgamento provoca ônus e, em muitos casos, emperra a malha pública.

– E o que estabeleço como prerrogativas para meu futuro acordo? – Vincente sorriu irônico.

– Ora, ora. As estratégias e formas adequadas para utilizá-las cabe a você descobrir. Mas, com certeza, isso lhe custará caro. Sempre custa mais caro a punição do que evitar o crime, Vincente. E mais, isso constará em sua ficha discente. Certifique-se de que seja essa a única anotação que desabone sua conduta escolar, se quiser ter a chance de ser contratado pelo Escritório Modelo. Há uma vaga apenas, para advogado de defesa e inegavelmente você tem talento para o Direito Penal. Se ainda tinha algumas dúvidas em que área decidir por sua atuação, sugiro fortemente essa especialização. Você tem o perfil adequado para isso. Portanto, eu o indicarei para esta vaga, mas prometa-me que não irei me arrepender dessa indicação.

– Certamente, Mestre. Muito obrigado.

 Estendeu a mão para o professor que, ao invés de apertar sua mão, quebrou o protocolo, abraçando-o com entusiasmo.

 – Terá um grande futuro pela frente, Vincente. Qualquer um pode prever isso. No que depender de mim, farei o que estiver ao meu alcance para que essa previsão se concretize. Não estrague tudo, está bem? Agora vá – e fez um gesto com a mão espalmada, incitando-o a sair.

 – Vá consertar a bobagem que fez.

❤❤❤

Sobre o Livro 

  

A Colheita- Todo Homem tem o seu preço

Para conhecer o Caos urbano que se transformou a "Cidade Maravilhosa" basta ler os Jornais .

Porém ..Não explica  como tudo isso teve origem!

"A Colheita" traz para o leitor um enredo de ficção  que poderia ser realidade ....

Com elementos da realidade que bem que poderiam pertencer apenas ao terreno da ficção!

A trama se passa entre duas cidades -a  fictícia cidade de Acácias do estado do RJ e  que abriga a Universidade de Acácias e as Escolas que servem de  cenário para os personagens -, e a Cidade do Rio de Janeiro , sede da Faculdade de Direito de Acácias no Bairro do Leblon e próximo às comunidades do Vidigal e da Rocinha.

"A colheita" segue ainda por  duas linhas temporais  :

Os anos de 2007/2008 e dez anos depois , quando conhecemos o desenrolar dos fatos ,  vislumbramos as mentiras , as traições e a corrupção que desmantela as melhores intenções.

E ainda assim ,  mesmo em meio ao Caos , surge o amor,  a compaixão,  o perdão e a luta por um ideal.

A terra foi plantada ....e agora chegou o Tempo da "Colheita".

A Colheita ..Porque Todo Homem tem o seu preço ! 

[1] “Em mangas de camisa” é uma expressão que está caindo em desuso, embora ainda seja utilizada em algumas regiões do Brasil. Basicamente indica alguém que está utilizando um traje informal. Outro sentido da expressão, enquanto gíria, é “entrar em confusão". Entretanto, aqui Vincente faz um trocadilho com os diferentes significados da expressão; afinal, aos outros estudantes era permitido permanecer ‘em mangas de camisa’- com o sentido de trajes informais - sem que isso os colocasse ‘em mangas de camisa’, sendo entendido como "entrar em confusão’"(N.A)